Junto neste espaço duas paixões: a fotografia (instintiva e muito amadora) e a escrita. À exceção da publicada na mensagem de 24.06.2013, todas as fotos são minhas. Os textos também, embora possa, de vez em quando, socorrer-me de palavras alheias, sobretudo de índole literária. Objetivo único do blogue: partilhar e estimular emoções. Abraço. António Pereira
Foto obtida na ilha de Tavira, sul de Portugal (Algarve)
O céu, a terra, o vento sossegado... As ondas, que se estendem pela areia... Os peixes, que no mar o sono enfreia... O nocturno silêncio repousado... O pescador Aónio, que, deitado Onde co vento a água se meneia, Chorando, o nome amado em vão nomeia, Que não pode ser mais que nomeado: - Ondas – dezia – antes que Amor me mate, Tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo Me fizestes à morte estar sujeita. Ninguém lhe fala; o mar de longe bate; Move-se brandamente o arvoredo; Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.
Pequena maravilhosa descoberta num recanto do meu jardim esta manhã...
"Março, 9
O poeta beija tudo,
graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz
assim: "É preciso saber olhar..." E pode ser, em qualquer idade,
ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os
homens feitos... E levanta uma
pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E
perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com cousas de
nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe
sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de
Sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E pega no braço
dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E
reparou que os homens estavam tristes... E escreveu uns versos que começam
desta maneira: "O segredo é amar...""
in Diário,
Sebastião da Gama
Informação complementar:
Sebastião da Gama nasceu em 1924 (em Azeitão, onde vivo), tendo falecido,
em 1952, vítima de tuberculose renal, com apenas 27 anos.
Apesar da curta existência, este poeta e professor de Português tem várias
obras publicadas (algumas postumamente): Poesia
Serra-Mãe, Loas a Nossa Senhora da
Arrábida, Cabo da Boa Esperança, Campo Aberto, A Região dos Três Castelos, Pelo
Sonho é que Vamos, Diário, Itinerário Paralelo, O Segredo é Amar e Cartas I.
O Diário (editado postumamente,
em 1958) é um verdadeiro manual de pedagogia que resulta da reflexão sobre o
ensino em geral, ancorada nas suas experiências na sala de aula. Na minha
opinião, pela sua dimensão humana, esta é uma leitura enriquecedora
para o público em geral e “obrigatória” para os professores de todas as disciplinas e níveis
de ensino.