31.12.13

Magia de um momento...


Imagem colhida há pouco, entre duas chuvadas, na horta...
 
Como um espelho mágico,
                                       feita de chuva,
                                                           uma gota
                                                                       emerge...
beleza,
magia,
delicadeza,
perfeição,
emoção…

Tudo criado e perdido
num momento dolorosamente efémero
                                                                 e
                                                                  sem futuro!
 
António Pereira

22.8.13

Renascer!

Foto tirada há pouco...


A noite nasceu fria
e,
como uma viúva consumida pelo desgosto,
vestiu-se de negro…

Inconformada, a lua roubou a luz ao sol
e
devolveu a Esperança à humanidade!

 

António Pereira

26.7.13

.A tragédia de Aónio...

Foto obtida na ilha de Tavira, sul de Portugal (Algarve)

O céu, a terra, o vento sossegado...
As ondas, que se estendem pela areia...
Os peixes, que no mar o sono enfreia...
O nocturno silêncio repousado...

O pescador Aónio, que, deitado
Onde co vento a água se meneia,
Chorando, o nome amado em vão nomeia,
Que não pode ser mais que nomeado:

- Ondas – dezia – antes que Amor me mate,
Tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo
Me fizestes à morte estar sujeita.

Ninguém lhe fala; o mar de longe bate;
Move-se brandamente o arvoredo;
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.

Luís de Camões

24.6.13

.À morte de um amigo querido...

A animar um seminário na escola onde lecionou durante mais de 2o anos: A Ferreira Dias no Cacém.


Crendo que o caminho não tem fim,
seguimos confiantes e incautos…
A morte, dissimulada, segue-nos…
Quando menos esperamos,
manhosa, leva-nos no seu manto de trevas!

É a vida, dizem todos.

Encontrar-nos-emos nesse tempo sem tempo
e, numa nuvem que esteja livre,
partilharemos o alimento dos deuses:
uma dose de ambrósia bem regada com néctar!

 Até lá,
 Amigo Fernando Carita.


António Pereira


11.6.13

ASAS DE VENTO...

Foto tirada em Olhão, Algarve, ao fim da manhã.

 
Com asas de vento,
a ave voava, veloz…

 
Vi-a e ela viu-me…

 
O meu coração,
vívido,
voou com ela
e
chegou ao céu!
 

António Pereira






 

1.6.13

A estrada da vida...

Foto tirada no sul de Portugal (Escoural, Montemor-o-Novo).
 
 
Como a vida,
Os caminhos são tortuosos…
Os sonhos têm fim…
O tempo esvai-se, segundo após segundo…
 
 
Como a vida,
a estrada parece não ter fim,
mas estreita-se continuamente…
 
 
Resta o desconhecido,
fica o mistério do que há para além do fim do caminho…
 
 
 
António Pereira


28.5.13

Apenas ilusão...

Foto tirada no sul de Portugal (Alentejo - Barrancos)
 
 
Como um gigante feito de sombra,
projetei-me na planície ressequida…

Com o sol aninhado no horizonte,
perdi-me sob o manto negro da noite
e a ilusão desfez-se...
 
É assim a vida:
                           Tudo num momento, nada logo a seguir…
 
António Pereira


14.5.13

.Caminho prà liberdade!

A lagarta voltou para a horta...
 
Como um soldado, patrulha o seu território…
A folha, suculenta, aguça-lhe o apetite voraz.
Rasteja naquela mancha verde,
indiferente ao tempo que passa…
Não tem projetos
e
espera apenas que o destino se cumpra:
Um dia, terá as suas asas coloridas
e
levantará voo em direção à felicidade!
 
É assim a liberdade:
                                   frágil,
                                               essencial,
                                                               única!
 
António Pereira
                                      


5.5.13

.Resta a solidão...

Foto tirada hoje ao fim da tarde
 
 
Ver a casa em ruínas
entristeceu-me o coração…

Fechei os olhos,
constrangido,
e,
como um arqueólogo de sentimentos,
reconstituí a vida que ali houve:
a alegria de outros tempos,
os risos perdidos na memória,
as lágrimas choradas há muito…
 
Abro os olhos: 
resta apenas a solidão das pedras
engolidas pela vegetação impiedosa…
 
António Pereira


2.5.13

.Tenho a alma cativa...

Foto colhida no campo perto de minha casa

Os meus olhos deslizavam, livres, na paisagem,
registando momentos, aqui e ali…
Exuberantes, os aromas doces envolviam-me…
Perdi-me nos cantos sedutores das aves…

As cores e as formas diluíram-se e,
sem aviso,
o fogo éfemero de uma papoila,
como uma impressão fugidia,
aprisionou-me a alma...

Fiquei para sempre cativo!

 
 
António Pereira

30.4.13

.Vontade de ser feliz!

Mais um milagre da natureza no meu jardim...
 
Estica o pescoço
e finge ser ave exótica…
 
Exibe o bico e a crista
e
enche-se de cores vistosas…
 
Tem um desejo que lhe preenche os dias:
Vestir as asas do sonho
e
voar para uma floresta distante.
 
 
Loucura de estrelícia?
Não… Apenas a vontade de ser feliz!
António Pereira
 


28.4.13

.Nas asas do tempo...

Mas uma maravilha do jardim cá de casa...
 
A rosa cor-de-rosa ergue-se, resoluta!
O sol lambeu, voraz, a humidade matinal das suas pétalas…
Confiante, liberta, discretamente, um aroma doce…
Está no auge, a rainha do jardim…
Inconsciente, ignora o que há de vir em breve:
As pétalas fenecerão, uma a uma…
Perderá para sempre o seu perfume…
 
Outras rosas nascerão
e a vida seguirá o seu curso,
levada, nas asas do tempo,
por uma força im-
                             pa-
                                  -
                                      vel!
António Pereira


26.4.13

.Rosa-fogo!

Foto tirada no jardim ao anoitecer.
 
 
 
No meu jardim,
como lava incandescente,
há uma rosa-fogo!

Quando o dia se desvanece
e a noite se aproxima,
enche-se de luz e cor
e
o seu aroma
                    inebriante
                                     liberta-se…


Sento-me junto ao canteiro
e, alheio a tudo,
rendo-me à beleza das suas
                                             pé-
                                                  ta-
                                                      las…
 
António Pereira


21.4.13

.A felicidade conquista-se...

Mais um milagre da primavera, junto a minha casa
 
Vestido a rigor,
no ouro das suas flores,
o tojo vigia, nervoso, o caminho tentador.
Os passos apressados de quem ali passa
estimulam-lhe a imaginação…
O horizonte, longínquo,
alimenta-lhe a alma…
Mas as raízes profundas, que o sustentam,
tolhem-lhe os passos…
 
 
Decidido, dá asas ao sonho
e voa em direção à felicidade!
António Pereira
 


15.4.13

.O meu mundo de palavras...

Foto tirada hoje no jardim
 
Quando olho as tranças das glicínias,
hesito entre a alegria do momento
e a consciência dolorosa da sua efemeridade…
Restam-me as palavras.
Com elas, construo os meus universos secretos
e partilho as emoções que me alimentam a alma.
Assim, esqueço o tempo que passa
(ora manso, como um cordeiro,
ora feroz e implacável, como um vendaval incontrolável)
e dou atenção às pequenas coisas.
Sou apenas um colecionador de momentos no baú da memória…
 
António Pereira


14.4.13

.Ser poeta é...

Pequena maravilhosa descoberta num recanto do meu jardim esta manhã...

"Março, 9

O poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: "É preciso saber olhar..." E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com cousas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens estavam tristes... E escreveu uns versos que começam desta maneira: "O segredo é amar...""
in Diário, Sebastião da Gama

Informação complementar:
Sebastião da Gama nasceu em 1924 (em Azeitão, onde vivo), tendo falecido, em 1952, vítima de tuberculose renal, com apenas 27 anos.
Apesar da curta existência, este poeta e professor de Português tem várias obras publicadas (algumas postumamente): Poesia Serra-Mãe, Loas a Nossa Senhora da Arrábida, Cabo da Boa Esperança, Campo Aberto, A Região dos Três Castelos, Pelo Sonho é que Vamos, Diário, Itinerário Paralelo, O Segredo é Amar e Cartas I.
O Diário (editado postumamente, em 1958) é um verdadeiro manual de pedagogia que resulta da reflexão sobre o ensino em geral, ancorada nas suas experiências na sala de aula. Na minha opinião, pela sua dimensão humana, esta é uma leitura enriquecedora para o público em geral e “obrigatória” para os professores de todas as disciplinas e níveis de ensino.

 

10.4.13

.A vida cumpre-se…

 
 
Como adolescentes que procuram afirmar-se,
os nabos elevam-se no ar lavado da manhã.
A laranjeira, experiente, ignora-os…
Sabe que as suas flores, doces e olorosas,
atrairão todos os insetos…
Adivinhando o seu fulgor alado,
estremece no prazer antecipado da fecundação…
 
António Pereira


5.4.13

.O amor alimenta a alma!

Ilha da Armona, Olhão (sul de Portugal)


Observo-a, escondido na timidez,
e fico a vê-la, etérea e exuberante, como o perfume das mimosas…
Nada mais existe,
nada mais interessa…
A natureza, o amor, ELA…

Sou feliz!
 
António Pereira

28.3.13

.Esgota-se o tempo...

Ilha da Armona - Olhão, sul de Portugal (março 2013)
 

De costas viradas para o mar,
o barco afunda a seu desalento na areia…
As ondas agitam-se em murmúrios que não ouve…
Os peixes passam, velozes, indiferentes à sua solidão…
Numa clepsidra invisível, o seu tempo esgota-se...

Triste, olho-o uma última vez e afasto-me sem dizer nada…

 

António Pereira

22.3.13

.Quando vier a primavera… (Fernando Pessoa)

Foto tirada hoje no sul de Portugal

Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Fernando Pessoa (heterónimo Alberto Caeiro) 1915
 
 
Ouça o poema dito (magnificamente!) por Pedro Lamares:

16.3.13

.Sonho de um caracol...



Mal cai a noite, desliza, silenciosamente, pelo empedrado de mármore...

O candeeiro, preso para sempre na sua imobilidade, ilumina-lhe o caminho…

Intimamente, alvoroça-se e inveja o sonho que insufla a alma do decidido gastrópode: descobrir o mundo que há para além do muro que cerca o jardim…

 

António Pereira