30.4.13

.Vontade de ser feliz!

Mais um milagre da natureza no meu jardim...
 
Estica o pescoço
e finge ser ave exótica…
 
Exibe o bico e a crista
e
enche-se de cores vistosas…
 
Tem um desejo que lhe preenche os dias:
Vestir as asas do sonho
e
voar para uma floresta distante.
 
 
Loucura de estrelícia?
Não… Apenas a vontade de ser feliz!
António Pereira
 


28.4.13

.Nas asas do tempo...

Mas uma maravilha do jardim cá de casa...
 
A rosa cor-de-rosa ergue-se, resoluta!
O sol lambeu, voraz, a humidade matinal das suas pétalas…
Confiante, liberta, discretamente, um aroma doce…
Está no auge, a rainha do jardim…
Inconsciente, ignora o que há de vir em breve:
As pétalas fenecerão, uma a uma…
Perderá para sempre o seu perfume…
 
Outras rosas nascerão
e a vida seguirá o seu curso,
levada, nas asas do tempo,
por uma força im-
                             pa-
                                  -
                                      vel!
António Pereira


26.4.13

.Rosa-fogo!

Foto tirada no jardim ao anoitecer.
 
 
 
No meu jardim,
como lava incandescente,
há uma rosa-fogo!

Quando o dia se desvanece
e a noite se aproxima,
enche-se de luz e cor
e
o seu aroma
                    inebriante
                                     liberta-se…


Sento-me junto ao canteiro
e, alheio a tudo,
rendo-me à beleza das suas
                                             pé-
                                                  ta-
                                                      las…
 
António Pereira


21.4.13

.A felicidade conquista-se...

Mais um milagre da primavera, junto a minha casa
 
Vestido a rigor,
no ouro das suas flores,
o tojo vigia, nervoso, o caminho tentador.
Os passos apressados de quem ali passa
estimulam-lhe a imaginação…
O horizonte, longínquo,
alimenta-lhe a alma…
Mas as raízes profundas, que o sustentam,
tolhem-lhe os passos…
 
 
Decidido, dá asas ao sonho
e voa em direção à felicidade!
António Pereira
 


15.4.13

.O meu mundo de palavras...

Foto tirada hoje no jardim
 
Quando olho as tranças das glicínias,
hesito entre a alegria do momento
e a consciência dolorosa da sua efemeridade…
Restam-me as palavras.
Com elas, construo os meus universos secretos
e partilho as emoções que me alimentam a alma.
Assim, esqueço o tempo que passa
(ora manso, como um cordeiro,
ora feroz e implacável, como um vendaval incontrolável)
e dou atenção às pequenas coisas.
Sou apenas um colecionador de momentos no baú da memória…
 
António Pereira


14.4.13

.Ser poeta é...

Pequena maravilhosa descoberta num recanto do meu jardim esta manhã...

"Março, 9

O poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: "É preciso saber olhar..." E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com cousas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens estavam tristes... E escreveu uns versos que começam desta maneira: "O segredo é amar...""
in Diário, Sebastião da Gama

Informação complementar:
Sebastião da Gama nasceu em 1924 (em Azeitão, onde vivo), tendo falecido, em 1952, vítima de tuberculose renal, com apenas 27 anos.
Apesar da curta existência, este poeta e professor de Português tem várias obras publicadas (algumas postumamente): Poesia Serra-Mãe, Loas a Nossa Senhora da Arrábida, Cabo da Boa Esperança, Campo Aberto, A Região dos Três Castelos, Pelo Sonho é que Vamos, Diário, Itinerário Paralelo, O Segredo é Amar e Cartas I.
O Diário (editado postumamente, em 1958) é um verdadeiro manual de pedagogia que resulta da reflexão sobre o ensino em geral, ancorada nas suas experiências na sala de aula. Na minha opinião, pela sua dimensão humana, esta é uma leitura enriquecedora para o público em geral e “obrigatória” para os professores de todas as disciplinas e níveis de ensino.

 

10.4.13

.A vida cumpre-se…

 
 
Como adolescentes que procuram afirmar-se,
os nabos elevam-se no ar lavado da manhã.
A laranjeira, experiente, ignora-os…
Sabe que as suas flores, doces e olorosas,
atrairão todos os insetos…
Adivinhando o seu fulgor alado,
estremece no prazer antecipado da fecundação…
 
António Pereira


5.4.13

.O amor alimenta a alma!

Ilha da Armona, Olhão (sul de Portugal)


Observo-a, escondido na timidez,
e fico a vê-la, etérea e exuberante, como o perfume das mimosas…
Nada mais existe,
nada mais interessa…
A natureza, o amor, ELA…

Sou feliz!
 
António Pereira